Com leis mais rígidas, custo por voto para ser eleito prefeito em Campo Grande caiu de R$ 11,26 para R$ 6,29 em 16 anos

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Quanto custa para ser eleito prefeito em Campo Grande? As eleições municipais ocorrem somente em outubro, ou seja, em seis meses, mas o primeiro trimestre do ano já foi marcado por movimentações no cenário político da Capital, entre anúncios de pré-candidatos e troca-troca de siglas durante a janela partidária. 

A pergunta que abre este texto é um dos pontos-chave em qualquer campanha. Orçamentos, despesas e retornos. Colocar o nome em evidência exige influência, apertos de mãos, trabalho com a população e recursos para bancar uma forte candidatura. 

Esta matéria inicia uma série de reportagens sobre os custos nas eleições municipais em Campo Grande. O Midiamax fez um levantamento no DivulgaCand – Portal do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que disponibiliza dados declarados pelos próprios candidatos junto ao órgão – para saber quanto cada concorrente a chefe do executivo municipal desprendeu em 2020 durante a campanha.

Vale ressaltar que a matéria utiliza os nomes dos partidos usados pelos políticos que constaram nas urnas nas épocas das eleições. Nem todos permanecem na mesma sigla até hoje.

Os dados apontam que, no intervalo de 16 anos, se eleger em Campo Grande ficou mais barato e o custo por voto ficou quase R$ 5 menor. 

Dividindo as despesas da campanha pela quantidade de votos, o “custo-benefício” caiu de R$ 11,26 nas eleições de 2004 para R$ 6,29 em 2020, o que representa uma diferença de R$ 4,97, ou seja, uma queda de 44,13%. Assim, se reeleger foi ficando mais barato a cada eleição.

Entre os motivos para orçamentos mais enxutos, podem entrar nessa conta o limite de gastos definido pelo TSE e a proibição de doações por empresas após a Reforma Eleitoral (Lei nº 13.165/2015). Outro ponto a se destacar é que o número de pessoas aptas a votar oscila em cada pleito.

Histórico de custo por campanha para a prefeitura de Campo Grande. Fonte: TSE. (Madu Livramento, Midiamax)

Custo por voto variou de R$ 0,08 a R$ 280,54 em 2020

Entre as fontes de recursos, os valores gastos pelos candidatos podem ser oriundos de fundos eleitorais ou de doações de pessoas físicas. A Lei das Eleições (Lei nº 9.504/1997) estabelece os limites de gastos nas campanhas em cada município. 

Em 2020, o limite de gastos para os candidatos à prefeitura de Campo Grande ficou estabelecido em pouco mais de R$ 7,6 milhões (R$ 7.609.782,17). O máximo desembolsado no pleito passado pelos concorrentes chegou a um quarto desse montante. 

O levantamento do Midiamax mostra que nem sempre um orçamento robusto será sinônimo de vitória nas urnas. Dividindo o total das despesas com o número de votos obtidos, o “custo por voto” dos concorrentes à prefeitura de Campo Grande variou de R$ 0,08 a R$ 280,54.

A corrida eleitoral passada teve 14 candidatos a chefe do executivo municipal. Quatro deles desembolsaram mais de um milhão de reais para a campanha, incluindo o primeiro colocado do PSD, que teve despesa de R$ 1,3 milhão. 

Dagoberto (PDT) foi o que declarou mais gastos, somando R$ 1,82 milhão. O atual deputado federal obteve 6.507 votos naquelas eleições, o que representa gasto médio de R$ 280,54 para conquistar cada voto. O político do PDT ficou na 10ª colocação na disputa pelo cargo no executivo em 2020. 

Contudo, nessa conta há uma ressalva, visto que R$ 1,01 milhão foi declarado como doações financeiras a outros candidatos/partidos, o que representa mais da metade (55,53%) dos recursos. Assim, o custo por voto com os pouco mais de R$ 815 mil (R$ 815.426,19) restantes, ficaria em R$ 125,32.

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Custo por voto de candidatos a Prefeitura
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O último colocado na corrida eleitoral de quatro anos atrás, Paulo Matos, apresentou o segundo maior custo por voto. Foram declaradas despesas de R$ 481.805,46. O então político do PSC obteve 1.884 votos nas urnas, um desembolso médio de R$ 255,74 por cada eleitor conquistado. 

A candidata que mais otimizou os recursos na corrida eleitoral em 2020 foi a política Cris Duarte (Psol). Ela obteve 4.621 votos e declarou gastos de R$ 375, o que representa um CPV de R$ 0,08. 

Já o segundo colocado nessa lista é o promotor Sérgio Harfouche, que teve a candidatura indeferida pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), mas que disputou o segundo turno sub judice. O candidato do Avante conquistou 48.094 votos e declarou gastos de R$ 274.753,73, com custo por voto de R$ 5,71.

O que influencia o eleitor no voto em Campo Grande?

Campo Grande. (Nathalia Alcântara, Jornal Midiamax)

Segundo o cientista político e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Daniel Miranda, diversos fatores podem influenciar o eleitor na hora de votar na urna. Um dos principais é que a maioria dos eleitores escolhe o candidato mais próximo da eleição, o que ressalta a importância das campanhas eleitorais.  

“Ao lado disso, há a ‘força’ da candidatura: a pessoa do candidato já ser conhecida, se terá alianças/apoios partidários, ter recursos, etc. A força do candidato o faz chegar até o eleitor, ficar mais ainda conhecido, ser lembrado na hora do voto. Isso tudo influencia o eleitor na hora do voto”, explica o professor. 

O docente também relembra que as eleições de 2020 ocorreram durante a pandemia de Covid-19, o que ressalta algumas particularidades, como as campanhas “menos presenciais”. 

“Penso que a principal particularidade dessas eleições é o retorno às campanhas mais presenciais, pois as últimas eleições (2020) foram no auge da pandemia. Além disso, nestas eleições para Campo Grande, há uma quantidade maior de candidaturas fortes quando comparada às eleições passadas, o que vai fazer a disputa ser mais acirrada”, aposta. 

O que dizem os candidatos?

Midiamax entrou em contato com os dois candidatos à Prefeitura que tiveram o maior custo por voto e com a que desembolsou menos dinheiro para conquistar o eleitorado.

Paulo Matos afirmou ao Midiamax que, na prestação de contas, foi declarado o custo real e 100% do que foi gasto na campanha. Além disso, também enfatizou que as dificuldades causadas pela pandemia de Covid-19 afetaram o desempenho na corrida eleitoral, especialmente para os candidatos menores. 

“Se pegar o tamanho de comitê, tamanho de apoio, de alianças, vereadores, estrutura, carros de outros candidatos e se pegar o número que foram apresentados na prestação de contas é insignificante. A hipocrisia na prestação de contas é absurda. A minha campanha foi modesta em termos de valores, em meio a pandemia”, criticou. 

Cris Duarte, a candidata com o melhor “custo-benefício” na relação de votos, falou ao Midiamax que usou muito as mídias sociais, o que reduziu os gastos comuns de campanha.

“Quando fui candidata, o recurso eleitoral foi depositado na conta do diretório estadual e esse arcou com despesas de material gráfico e outros custos da campanha como advogado e contador. Realmente, não tive depósito em espécie em minha conta eleitoral, mas nossa campanha em 2020 (em plena pandemia) foi praticamente realizada via redes sociais, o que eliminou custos comuns de outras campanhas”, ela afirma.

Midiamax também questionou o atual deputado federal Dagoberto sobre o desempenho na campanha eleitoral, apresentando os dados já informados na reportagem. “O problema é que o dinheiro gasto foi todo oficial, gastei com os candidatos a vereadores”, diz.

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